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Pint of Science aproxima ciência da sociedade com papo descontraído em bares de Salvador

A ciência saiu dos laboratórios e foi para as mesas de bares e restaurantes. Essa é a proposta do Pint of Science, evento onde pesquisadores discutem ciência e suas contribuições para a sociedade enquanto degustam um copo de cerveja. A edição de 2023 aconteceu nos dias 22, 23 e 24 de maio e, em Salvador, contou com a Fiocruz Bahia na sua organização, junto a Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Realizado no Bar Tampinha, o primeiro dia do evento trouxe a sustentabilidade como tema central e contou com a participação do Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFBA e coordenador do INCT-Carne, Ronaldo Lopes, que compartilhou sua experiência na área de avaliação de alimentos e qualidade da carne. Já a pesquisadora Carolina Souza, também da UFBA, abordou o aproveitamento de resíduos para obtenção de bioprodutos e as iniciativas da startup “SuperBugs Alimentos Funcionais”, empresa voltada para a produção sustentável de insetos comestíveis, financiada pelo Programa Centelha Bahia.

A última participação da noite ficou por conta da pesquisadora da Fiocruz Bahia, Nelzair Vianna, com a palestra “Ciência e decisão”. A apresentação contou com o lançamento do gibi com o mesmo nome de sua fala com ilustrações de Pablito Aguiar, contando a história do projeto de monitoramento da qualidade do ar em Salvador. Nelzair falou sobre a necessidade de aproximar cientistas e a sociedade, reforçando a importância do fazer científico para a saúde da população.  “Participar do Pint of Science foi uma oportunidade de interagir com o público em geral, trazendo a importância da ciência para as decisões que fazem parte do nosso dia a dia. Falamos sobre como as decisões políticas para gerenciar riscos sobre poluição do ar em Salvador foram baseadas em evidências científicas”, ponderou.

No dia 23, o Pint of Science aconteceu na cervejaria Art Malt, no bairro do Rio Vermelho. Antes da abertura oficial do evento, uma quebra de protocolo marcou o tom da temática da noite, “Sendo inspiração: Meninas e Meninos nas Ciências”: a estudante Giulia Victoria foi chamada ao palco para conhecer Jaqueline Góes, uma das palestrantes do evento. Giulia, que recentemente foi aprovada em primeiro lugar em Química, na UFBA, tem a pesquisadora como inspiração.

O exemplo da estudante casou com as três apresentações da noite. Abrindo o evento, Natália Tavares, da Fiocruz Bahia, trouxe dados sobre a presença feminina nos espaços científicos, desde a graduação até a profissionalização, dialogando com a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem como um dos objetivos a igualdade de gênero. A pesquisadora compõe a comissão do projeto Meninas Baianas na Ciência que faz parte do movimento pelo fim da discriminação de gênero da Fiocruz e busca mostrar a estudantes do ensino médio da rede pública que elas podem seguir a carreira científica, explicou Natália. As meninas selecionadas para o programa desenvolvem atividades dentro dos laboratórios do instituto e assim dão os primeiros passos nessa carreira, vivendo na prática o poder transformativo que essa iniciativa tem.  “Quando elas vão na Fiocruz e colocam a mão na massa, percebem que não é algo distante, que elas podem fazer isso também” declarou a pesquisadora.

Jaqueline Góes foi a segunda palestrante do evento, levando para a mesa do bar sua trajetória como pesquisadora, ou melhor, cientista, como ela prefere ser chamada, para trazer mais aproximação com o público geral. “Cria” da Fiocruz Bahia, Jaqueline contou sua história desde quando decidiu estudar Biomedicina até seus projetos de mestrado e doutorado na fundação, para mostrar como cada passo foi importante para chegar ao estrelato, ao fazer parte da equipe que sequenciou o genoma do Sars-Cov-2 em tempo recorde em 2020, assim que o primeiro caso foi registrado no Brasil.

O reconhecimento internacional pelo seu feito e sua representatividade como mulher negra na ciência é um exemplo de como a igualdade de gênero e raça precisa ser alcançada para que Jaqueline não seja o único ponto fora da curva na área. A egressa da Fiocruz Bahia disse que enxergou todo o sucesso como um grande propósito, para dar oportunidade para as futuras cientistas da mesma forma que ela recebeu em pontos cruciais da carreira.

“Se não tiver oportunidade não adianta, você pode ser a pessoa mais talentosa do universo, seu talento vai ficar guardadinho na gaveta. A gente precisa ter oportunidade, a gente precisa oferecer plataformas para que esses talentos possam ser visibilizados” reafirmou Jaqueline, aproveitando a oportunidade para falar em primeira mão sobre o Instituto Jaqueline Góes, que futuramente irá potencializar as carreiras dessas meninas e mulheres negras e indígenas.

Finalizando o segundo dia, o doutorando da Fiocruz Bahia, Matheus de Jesus, falou sobre a Síndrome de Impostor tão presente na vida dos estudantes e pesquisadores já formados. Apesar de não ser considerado um transtorno mental pela Organização Mundial de Saúde (OMS), existe uma preocupação por parte dos psicólogos para tratar os transtornos que podem levar a essa síndrome, como ansiedade e depressão.

Discutir saúde mental é de extrema importância dentro da carreira acadêmica, para evitar que esses transtornos levem a uma autocobrança exacerbada e a síndrome se instale, piorando o quadro do indivíduo. Autossabotagem e crenças negativas foram alguns exemplos de fatos agravantes citados por Matheus em sua apresentação, trazendo seu relato pessoal para ajudar outras pessoas na mesma situação. O doutorando falou abertamente sobre precisar da ajuda profissional em dado momento da vida e a necessidade de normalizar tratamentos com psicólogo e psiquiatra, como se trata de outras doenças.  “São questões que a gente precisa começar a conversar e a normalizar porque esse tipo de sentimento é uma questão recorrente entre os alunos” acrescentou Matheus.

O último dia de festival, realizado na quarta-feira, 24, na hamburgueria Red Burger, contou com palestras dos pesquisadores da Fiocruz Bahia, Bruno Bezerril, Fred Santos e Clarissa Gurgel, além do professor do SENAI CIMATEC, Daniel Almeida Filho. Com o clima descontraído, os convidados abordaram temas como ciência e medicina, doença de Chagas, pesquisas sobre o câncer e inteligência artificial.

Primeiro a se apresentar, Bruno Bezerril falou sobre a interação entre ciência e saúde, apresentando as diferenças e semelhanças das trajetórias do médico, do cientista e do médico cientista, ressaltando o constante aperfeiçoamento e avanços dos estudos científicos. “O fato da ciência estar sempre em mudança é o que faz com que ela seja fantástica”, afirmou. Em seguida, Fred Luciano fez um breve apanhado histórico sobre a doença de Chagas, passando pelas inovações e contribuições científicas para o diagnóstico e tratamento da doença, como é o caso do teste TR Chagas Bio-Manguinhos, com estudos conduzidos pelo pesquisador.

Na sequência, a pesquisadora Clarissa Gurgel apresentou um panorama das pesquisas realizadas sobre o câncer e as contribuições de profissionais de diferentes áreas na busca por respostas cada vez mais efetivas para a saúde pública. A cientista reforçou o importante papel do evento enquanto um espaço de provocação para futuros profissionais. “É um espaço de conexão da ciência com a sociedade e se, talvez, eu tenha inspirado uma única a mente jovem a seguir a trajetória científica e buscar soluções inovadoras para os desafios da pesquisa em câncer, isso ratifica o meu propósito enquanto cientista”.

A noite foi finalizada com a palestra de Daniel Almeida, que falou sobre a Inteligência Artificial e os seus impactos para a saúde e a ciência no futuro, abordando temas como a medicina personalizada e modelos promissores para o desenvolvimento de novos métodos e ferramentas de pesquisas, diagnósticos e tratamentos.

Para a pesquisadora da Fiocruz Bahia e coordenadora-adjunta do Núcleo Salvador do festival, Valéria Borges, a realização de um festival como o Pint of Science é um grande desafio e um trabalho em equipe intenso para a organização. “O evento reforça que precisamos criar mais espaços de interação de cientistas com a população. Despertar o interesse da sociedade pela pesquisa e fazer chegar à informação correta é o melhor caminho para se combater o dano causado pelas Fake News. Nada melhor do que o ambiente descontraído para brindar a Ciência”, afirmou.

Romero Nazaré, estudante do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa da Fiocruz Bahia (PgBSMI), também falou sobre a sua participação no evento. “Foi incrível! Aprendemos muito. Vimos o quanto a realização de um evento é desafiadora, mas as boas risadas, a alegria, o brilho no olhar e entusiasmo das pessoas é gratificante e recompensador”, disse.

O Pint of Science Salvador teve a coordenação geral por Denis Soares (UFBA) e contou com uma comissão local formada por Jailson Andrade (UFBA), Samuel Pita (UFBA), Rafael Short  (UFBA) e Márcio Santos (Fiocruz Bahia), além de professores, alunos e demais colaboradores das instituições envolvidas.

Sobre o festival

O Festival Internacional de Divulgação Científica Pint of Science teve início no ano de 2013, em Londres, por iniciativa de estudantes que queriam contar sobre suas pesquisas e os seus resultados positivos utilizando ambientes descontraídos como bares e restaurantes. O Pint chegou ao Brasil em 2015 e, em Salvador, ocorre desde 2017 coordenado pelo Prof. Denis Soares, diretor da Faculdade de Farmácia da UFBA.

Em 2023, o evento aconteceu simultaneamente em 25 países, em mais de 400 cidades, 120 delas no Brasil. Esta versão tem um gosto especial por ser o primeiro evento presencial pós-pandemia após importantes contribuições da Ciência nas áreas de vacina e epidemiologia da COVID-19. Em 2024, o festival será realizado de 13 a 14 de maio, despertando o interesse de toda a comunidade científica e aproximando temas importantes de toda a sociedade. Próximo ano, o Pint of Science Salvador estará sob nova direção geral de Valéria Borges (Fiocruz Bahia).

Fonte: Fiocruz Bahia

Foto: Fiocruz Bahia

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