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De volta à Ciência

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) publica trechos do editorial da Folha de São Paulo saudando a posse da nova ministra da Saúde, Nísia Trindade, e também o artigo do acadêmico Renato Cordeiro, sobre o significado para a ciência da posse da ex-presidente da Fiocruz. 

A Folha de S. Paulo publicou um editorial saudando a posse da nova ministra da Saúde, Nísia Trindade, como uma volta à normalidade na pasta. Confira:

O governo Jair Bolsonaro (PL) foi tão retrógrado em relação a pontos básicos do pacto civilizatório que sucedê-lo implica enfrentar duas agendas, a simbólica e a administrativa. Nísia Trindade, ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz e atual ministra da Saúde, não terá dificuldades com a primeira.

A saúde foi um dos setores que mais sofreram sob o bolsonarismo. Se a pandemia de Covid-19 já causou forte impacto mesmo sobre sistemas que responderam racionalmente à crise, os efeitos foram devastadores sobre aqueles que a enfrentaram com negacionismo e pensamento mágico, como foi o caso do governo brasileiro.

Trindade não precisa mais do que revogar diretrizes insensatas da administração anterior —como autorizar prescrição de cloroquina e ivermectina— para recolocar a pasta na trilha da ciência.

(…)

Leia o editorial completo na Folha de S. Paulo.

“Nísia é a antítese da gestão anterior” diz Renato Cordeiro

Leia o texto do cientista e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Renato Cordeiro, sobre a posse de Nísia Trindade no Ministério da Saúde:

“Primeira mulher presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima mostrou grande capacidade e sensibilidade na condução de nossa instituição durante a pandemia da Covid-19. Foram anos dramáticos que resultaram em quase 700 mil mortes, enquanto governo e ministros da saúde atuavam contra práticas baseadas em evidências, estimulavam terapias inócuas como cloroquina e ivermectina, minimizavam a gravidade do problema e desestimulavam a vacinação de adultos e crianças. 

Nísia exerceu sua liderança com extrema competência e espírito público, sabendo lidar com um governo negacionista e negociando com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e laboratórios privados para aquisição e produção da vacina da AstraZeneca/Oxford no Campus de Manguinhos. 

Nísia no Ministério da Saúde (MS) é a antítese da gestão anterior. Com certeza, a nova ministra dialogará permanentemente com a ciência por meio da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e das sociedades científicas. Fortalecerá a pesquisa em saúde, bem como ampliará capacidades em universidades e institutos de pesquisa visando a fronteira tecnológica em Covid-19 e a preparação para futuros surtos e pandemias.  Nesse contexto, o domínio da tecnologia das vacinas de RNA mensageiro (mRNA) e a agregação de outras ferramentas como inteligência artificial são passos fundamentais.  

Nísia deverá fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS), fragilizado e sucateado nos últimos anos, recuperar a Farmácia Popular e investir fortemente na redução da nossa grave dependência na importação de insumos. A ampliação do Complexo Econômico Industrial da Saúde é ação-chave. 

Acredito que as primeiras providencias envolvem a recuperação do Plano Nacional de Imunizações (PNI), a compra de vacinas bivalentes contra a Covid-19 e o desenvolvimento de campanhas para estimular a vacinação de adultos, crianças e idosos contra a Covid-19 e outras doenças. Também são necessários o desenvolvimento de políticas para resolver problemas da saúde dos povos originários e a humanização do atendimento à saúde mental, conforme os preceitos luta antimanicomial.   

No seu discurso de posse, a ministra afirmou: ”Sem dignidade, sem participação, com fome e com exclusão, é impossível falar de saúde”.

 A visão humanitária de Nísia rompe completamente com as políticas de segregação e desmonte e anuncia horizontes inclusivos e sustentáveis”. 

Renato Cordeiro

Pesquisador Emérito da Fiocruz.

Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e membro do conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

Fonte: Academia Brasileira de Ciências

Foto: Fernando Frazão – Agência Brasil

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