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Grupos sociais: amor e ódio

O diretor da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Roberto Lent, neurocientista, professor da UFRJ e coordenador da Rede Ciência para a Educação, explica que o comportamento afiliativo gera um fenômeno chamado de “fusão de identidades” em sua coluna em O Globo. A ABC disponibiliza trechos do artigo publicado na coluna “A Hora da Ciência”:

“Você se espanta, como eu, com a violência de alguns grupos organizados? São gangues, milícias, grupos políticos, torcidas organizadas de futebol. A violência se manifesta por palavras e atos que podem extrapolar todos os limites morais e legais, resultando em dor e morte. Mas há o outro lado da medalha, os grupos de paz que defendem causas sociais, ambientais, ideológicas e religiosas. Essa agregação social em torno de causas comuns ocorre no mundo todo. Às vezes une toda a população de um país em sua própria defesa, como é o caso agora da Ucrânia em armas. Outras vezes causa pulverização social, pondo em risco até os fundamentos da democracia, como nos Estados Unidos e no Brasil.

O comportamento afiliativo é intenso na espécie humana e representa uma necessidade básica. Mas não é privativo nosso. (…)

Resulta desse comportamento afiliativo um fenômeno psicológico chamado “fusão de identidades”. A pessoa se identifica de tal modo com seu coletivo, que incorpora como seus os objetivos e emoções do grupo. (…)

Que será que determina a fusão de identidades, fazendo-nos assumir como nossas as emoções de nosso grupo social? Essa pergunta tem sido abordada por pesquisadores do Instituto D’Or. A série de trabalhos que os pesquisadores do IDOR têm publicado utiliza experimentos simulados para evocar emoções afiliativas mais simples, como o afeto entre duas ou mais pessoas, o comportamento carinhoso e erótico, e mais recentemente o comportamento gregário de torcidas organizadas de futebol.

Os resultados têm revelado as redes cerebrais envolvidas com diversas fases dos fenômenos afiliativos: a motivação e a expectativa de recompensas, por exemplo. Não necessariamente monetárias, também afetivas ou sensoriais. E não necessariamente para si, mas também para o grupo. (…)

Os comportamentos afiliativos com fusão de identidades são típicos da psicologia humana. Meu time sou eu. Quem falar mal dele, falou mal de mim. Refletem a adaptação evolutiva pela agregação social cooperante. Ocorre que, mesmo reconhecendo a natureza biológica dessa função, a civilização pode lhe dar contornos positivos, já na escola ensinando as crianças a conviver com a diferença e lidar com as emoções afiliativas dos outros. Meu time sou eu, tudo bem. Mas, palmas ao time adversário quando vencer a partida final e se tornar campeão! E viva a democracia, mesmo quando meus opositores vencem a eleição!”

 

Acesse o texto completo em O Globo

 

Fonte: Academia Brasileira de Ciências – Roberto Lent para O Globo, 30/9

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