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Entre risotos e gigantes, está a ciência básica

A Academia Brasileira de Ciências disponibiliza o artigo do cientista Daniel Martins de Souza, publicado no Jornal A Tarde.

“Minha mãe é publicitária, mas cozinha o melhor “risotto ai funghi porcini” do mundo. Ela é minuciosa no preparo: desde a seleção dos ingredientes até a precisão no preparo. É perfeito! Tenho certeza de ela poderia certamente vencer um concurso de culinária. É interessante pensar que para que minha mãe possa fazer o melhor dos risotos, ela faz uso de “ferramentas” previamente estabelecidas, as quais nem consideramos como essenciais: se vencedora de um prêmio, seria justo que ela o partilhasse com as pessoas que descobriram o alho e o sal, além dos os/as inventores/inventoras do caldo de legumes e do queijo. Sem estas pessoas, que antecederam minha mãe, ela não faria o melhor risoto do mundo.

Em ciência, as coisas também são assim: para que uma/um cientista faça uma descoberta que mude nossas vidas, muitos outros cientistas tiveram de realizar seus projetos, para embasar um salto significativo de conhecimento. Temos então a ciência básica e a aplicada: A primeira torna possível a segunda. A ciência básica são os tijolos; a ciência aplicada é o muro pronto. O risoto é ciência aplicada; o alho, sal, queijo e caldo de legumes são ciência básica.

As descobertas científicas mais impactantes da humanidade são anualmente reconhecidas pelo “Prêmio Nobel”. Ao passo que tal prêmio é classicamente atribuído a uma pessoa, a descoberta premiada só aconteceu por causa do trabalho de outras centenas, talvez milhares de cientistas. Não que os vencedores não mereçam o prêmio, mas a construção de uma descoberta desta magnitude só é possível com o alicerce que a ciência básica constrói, ao longo de anos, de décadas. É importante mencionar ainda que a ciência básica é a porta de entrada às/aos aspirantes à ciência, possibilitando a formação de recursos humanos altamente qualificados, cujo potencial enriquece nossa sociedade.

Isaac Newton proferiu uma expressão, que se tornou muito popular entre os cientistas: “eu só pude enxergar mais longe, pois me apoiei nos ombros de gigantes”. Nesta metáfora, Newton humildemente assume que a grandiosidade de suas descobertas só foi possível pois “gigantes” (outros cientistas que vieram antes dele), construíram um alicerce tão sólido que possibilitou com que ele pudesse “enxergar” mais longe, alcançando assim feitos formidáveis.

A ciência básica forma os pilares fundamentais da humanidade, fazendo o mundo um lugar mais sábio e mais justo. Conhecimento é o nosso bem mais precioso. Logo, devemos cobrar dos representantes que estamos prestes a escolher nas próximas eleições suas posturas sobre a ciência. Nos tempos que temos vivido, precisamos que a humanidade, através de seus representantes, saiba e queira aproveitar todo o potencial que a ciência provém”.

Fonte: Academia Brasileira de Ciências / Jornal A Tarde

Foto: Academia Brasileira de Ciências

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