Nobel de Medicina esteve no Brasil e tentou analisar Luzia
A Academia Brasileira de Ciências disponibiliza trechos de matéria publicada pelo Estadão com as observações dos acadêmicos Sérgio Pena e Alexander Kellner sobre as pesquisas do novo Nobel de Medicina, Svante Pääbo. O cientista sueco, que desenvolveu tecnologia para extrair DNA de fósseis, esteve no Brasil e tentou analisar Luzia – o fóssil mais antigo de hominídeo achado no país, de 11 mil anos. Confira trechos da matéria:
Em uma época em que a maioria dos geneticistas voltava-se para entender o genoma humano, um especialista sueco teve uma ideia ainda mais ousada. E se conseguíssemos extrair material genético de fósseis dos ancestrais do homem moderno? Para surpresa de muita gente, a ideia funcionou.
O reconhecimento maior chegou ao autor dessa ideia nesta segunda-feira, 3. O Prêmio Nobel de Medicina deste ano foi concedido a Svante Pääbo. Ele dedicou pelo menos três décadas à tentativa de extrair material genético de fósseis de mais de 40 mil anos. Sua obstinação revelou o até então inédito genoma dos neandertais (Homo neanderthalensis). E fundou um novo campo da ciência: a paleogenética. Ele esteve no Brasil em 1992.
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“Pääbo começou esse trabalho de arqueologia genética e foi evoluindo nessa área até criar o Instituto Max Plank, de biologia evolucionária”, lembrou o geneticista Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), integrante da Academia Brasileira de Ciência (ABC).
“Ele conseguiu demonstrar, por exemplo, que, atualmente, os seres humanos da Europa ainda carregam de 3% a 4% do DNA neandertal, comprovando a miscigenação. É uma pessoa espetacular e o prêmio é muito merecido.”
Pääbo esteve no Brasil em 1992, a convite de Sérgio Penna. O geneticista brasileiro chegou a enviar ao laboratório do cientista sueco amostras de Luzia – o fóssil mais antigo de hominídeo achado no Brasil, de 11 mil anos. A ideia era tentar sequenciar seu DNA.
“Com a tecnologia da época, era impossível”, contou. “Embora os neandertais sejam muito mais antigos, seu DNA foi mais bem preservado do que o de Luzia.”
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“Ele trabalhou na fronteira do conhecimento, desenvolveu tecnologia para extrair DNA de fósseis”, resumiu o paleontólogo Alex Kellner, diretor do Museu Nacional. “O desenvolvimento desse tipo de tecnologia, nos faz pensar até que ponto poderíamos adaptar essas técnicas para extrair material genético de fósseis ainda mais antigos.”
Fonte: Academia Brasileira de Ciências / Estadão
Foto Fóssil Luzia: Fernando Frazão/Agência Brasil