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Estudo desenvolve escala de humanização na assistência à saúde de pessoas trans

A Escala THcH é resultado de pesquisa de mestrado de Ana Clara Guimarães, do Programa de Pós-Graduação em Medicina e Saúde da UFBA.

Como um questionário de autorrelato, a escala de rápida aplicação é composta por 14 perguntas, que podem ser preenchidas em 5 minutos. As questões podem “mensurar o grau de humanização dos profissionais de saúde ou até de estudantes em formação na atenção à saúde da população trans”, segundo a professora Liliane Kusterer.

“A padronização e validação de um instrumento capaz mensurar de modo objetivo essas dificuldades pode ser de fundamental importância para a reversão do cenário, possibilitando o desenho e implementação de estratégias capazes de reverter este processo”, acredita a professora da Faculdade de Medicina da UFBA (FMB-UFBA).

A Escala de Humanização na Assistência à Saúde Transgênero faz parte de um projeto mais amplo, coordenado por Brites e Kusterer. Ambos prestam atenção à saúde de pessoas Trans no Hospital Universitário Professor Edgard Santos e conhecem as dificuldades de acesso dessa população aos serviços de saúde.

O trabalho de Guimarães resultou no artigo Development and Validation of a Transgender Health Care Humanization Scale (Desenvolvimento e Validação de uma Escala de Humanização da Assistência à Saúde de Transgêneros), recentemente publicado no repositório da área da saúde Mary Ann Liebert Publishers.

CONCEPÇÃO DA PESQUISA

A concepção para a pesquisa nasceu a partir das observações da mestranda Ana Clara Guimarães, que é farmacêutica e trabalha no setor de Pesquisa em Infectologia (Lapi) do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes). Ela conta que “estava acostumada a lidar com uma população mais vulnerável e, conversando com alguns pacientes e ouvindo suas histórias e relatos, comecei a entender que uma abordagem que parecia para natural para mim não era exatamente uma realidade nos diversos outros setores e serviços de saúde, e que, de fato, havia uma certa dificuldade de acesso da população trans à saúde”.

Ao conversar com os professores Carlos Brites e Liliane Kusterer, juntos começaram a “pensar em uma maneira de estruturar um instrumento que se propusesse a mensurar a humanização em saúde para a população trans. E assim nasceu a ideia da Escala THcH”.

Guimarães pondera que “como não existiam outros instrumentos validados para avaliar a percepção de humanização da saúde para a população transgênero, nosso objetivo principal foi construir do zero e fazer a validação de uma escala de humanização a partir da avaliação dos parâmetros psicométricos cabíveis para verificar confiabilidade, reprodutibilidade e validade de conteúdo”.

DESENVOLVIMENTO DA ESCALA

Em primeiro lugar, “foi realizada uma revisão de literatura, a fim de identificar o referencial teórico da área, relacionada à humanização em saúde”, contou a pesquisadora. “Criamos um grupo de trabalho multidisciplinar composto por um advogado da área de direitos humanos, um representante social transgênero, um médico infectologista, uma psicometrista e outros profissionais de saúde, para elaborar um questionário constituído por itens adequados e relevantes”.

“O desenvolvimento da escala passou por diversas etapas de validação. A elaboração dos itens contou com pessoas de áreas como direitos humanos, saúde com experiência na atenção a pessoas trans e psicometria especializada em desenvolvimento de questionários e validação de escalas, além de contar com a participação da população trans”, explicou a professora Kusterer.

“Após ser criado, o questionário foi submetido a uma análise de juízes, especialistas em doenças infecciosas envolvidos no atendimento à população transexual, que julgaram os itens do instrumento quanto à pertinência, ao grau de adequação ao construto e análise semântica, visando ao refinamento da escala”, disse Guimarães. “Como um questionário piloto, aplicamos essa versão da escala a 20 profissionais de saúde, para que chegássemos à versão final”, explicou a mestranda.

A Escala THcH foi traduzida do português para o inglês e retrotraduzida para o português. As respostas se apresentam no formato Likert com cinco opções: (1) Discordo totalmente; (2) Discordo; (3) Não concordo nem discordo; (4) Concordo; (5) Concordo totalmente. A versão final da escala THcH foi respondida por 340 profissionais de saúde, entre os meses de agosto de 2019 e janeiro de 2020.

POSSÍVEL INTERVENÇÃO NA EDUCAÇÃO

“A validade da escala confirmou a hipótese de que os seus itens, realmente, medem a humanização dos profissionais de saúde e que a sua confiabilidade lhe permite ser aplicada nos mais diversos setores de saúde com a garantia de obtenção de resultados semelhantes”, explicou Guimarães.

Diante de resultados que demonstraram as boas propriedades da Escala THcH, as perspectivas de Ana Clara são de que “o trabalho seja parte de um projeto maior”. Ela diz que o “objetivo agora é aprimorar a escala, para que possamos inseri-la nas ferramentas existentes, visando a ajudar a orientar profissionais de saúde, a ampliar a Política de Humanização em Saúde e a auxiliar na desconstrução de preconceitos na atenção à saúde da população trans”.

No mesmo sentido, a professora Liliane Kusterer concorda que o instrumento poderá mensurar o grau de humanização dos profissionais e também de estudantes em formação, o que permitirá a realização de “intervenções educacionais, visando melhorias na formação de quem prestará assistência de saúde à população transgênero”.

Fonte: UFBA /  Josemara Veloso – Edgardigital

Foto: Ted Eytan – Creative Commons – https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/deed.pt_BR

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