Os INCTS e o futuro da CT&I no Brasil
“A ciência só floresce a partir de uma educação de muito bom nível”, afirma o presidente da Academia de Ciências da Bahia, Jailson Bittencourt de Andrade.
“O programa dos INCTs é um dos maiores programas de ciência e tecnologia do Brasil, de acordo com a página no site do CNPq – e todos nós concordamos fortemente com isso”, afirmou. Abrangendo praticamente todas as áreas da ciência: humanas, biológicas, exatas e agrárias, o papel dos INCTs é mobilizar e agregar, de forma articulada, os grupos de excelência em áreas de fronteira da ciência e em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do país. É um programa que envolve projetos de alto impacto científico, com repercussões em tecnologia e inovação, impacto científico este aliado a uma firme e intensa formação de recursos humanos altamente qualificados. “Ou seja, o programa dos INCTs começa com a educação. A ciência só floresce a partir de uma educação de muito bom nível. Depois da ciência, aí sim vem a tecnologia e vem a inovação, que são consequências”, esclareceu o químico.
O fato de os INCTs serem redes de pesquisa agrega valor aos programas que já existiram anteriormente, como o Pronex e os Institutos do Milênio. Os INCTs são mais competitivos por terem como diferencial, no contexto da gestão pública da CT&I, o volume de recursos, a abrangência de áreas de conhecimento e o grande número de pesquisadores envolvidos.
Na primeira fase eram 126 INCTs. “Agora temos 104 na segunda fase, que envolvem os números abaixo, atualizados em vermelho”, relatou o palestrante.
“Vejam que de 1.937 instituições, passamos para 2.300; o número de pesquisadores envolvidos quase dobrou, passando de 6.700 para 12.000”, expôs o palestrante, apontando que o número de parcerias com organizações públicas e não governamentais aumentou em torno de 20%. “Mas são parcerias que continuam de uma forma muito robusta e importantes com relação à formação de recursos humanos”, mostrou Andrade.
A questão dos recursos humanos é central nos INCTs, diante da fase terrível pela qual o país está passando, que se reflete diretamente na evasão de cérebros. “Questões de financiamento e de pertencimento nas universidades, principalmente, estão fazendo com que muitos pesquisadores jovens, com um futuro imenso, que foram formados em nosso país, apoiados pelas nossas agências, vão para o exterior. Os INCTs podem ser e são uma forma de fixar esses jovens pesquisadores”, argumentou Andrade. Para ele, contemplar dos temas das propriedades, das liberdades, do racismo e do sexismo, por exemplo, são caminhos para enfrentar a intolerância crescente de parte da sociedade para com o próimo. “Acredito que então os INCTs podem ajudar diretamente a minimizar e minorar essa sensação que nós temos neste momento.
Jailson Andrade apresentou ainda resultados da avaliação do programa, feita pelos coordenadores dos INCTs. “Foi colocado que o programa precisa ser não só continuado, mas ampliado – em número em recursos, abrangência temática e regional e com visão de convergência. Essa é a visão que eu acho que sintetiza a expectativa dos colegas e das colegas coordenadores”, destacou. Ele explicou que o programa nasceu no CNPq, mas envolve recursos extremamente importantes da Capes, especialmente as bolsas no país e bolsas no exterior. “A Capes é parceira e não só no programa. Seu papel com o portal dos periódicos é fundamental. Sem ele, nós praticamente pararíamos de ter acesso à ciência e tecnologia de ponta do lado de fora”, apontou. E o terceiro elo são as fundações estaduais. “As ‘faps’ tem apoiado bastante, foram muito importantes na segunda fase do programa dos INCTs. Esse sistema precisa ser preservado e potencializado.
Por fim, o vice-presidente da ABC ressaltou a importância da relação do programa de INCTs com a agenda 2030, que envolve os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável e suas 169 metas. “O Brasil trabalhou bastante nisso, começando na na Rio 92 e passando pela Rio +20. É uma agenda do planeta, uma agenda da prosperidade, uma agenda da paz. Para ser atingida, requer parcerias. E a proposta dos INCTs está totalmente coerente com essa agenda, uma agenda para a humanidade”, afirmou.
Fonte: Elisa Oswaldo-Cruz e Ana Clara Schmid para ABC