Novo estudo da Fiocruz Bahia analisa a vacina Coronavac em gestantes
Para mulheres grávidas, cuja fisiologia desfavorece a imunidade, o estudo constatou que somente uma dose da vacina Coronavac não ofereceu proteção contra a Covid sintomática, enquanto duas doses ofertaram uma taxa de 41% de efetividade, com 85% de chance de evitar sintomas graves.
Ainda que as mulheres grávidas estejam suscetíveis a efeitos mais graves da covid-19, devido ao fato que a própria gravidez em si já aumenta o risco para algumas doenças cardiopulmonares, elas foram excluídas da maioria dos testes de vacinas para a doença.
A pesquisadora associada ao Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), Enny Paixão, que liderou este estudo junto a uma equipe de pesquisadores do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), destaca que diversos estudos sobre efeito e eficácia das vacinas em grávidas já foram conduzidos. No entanto, esses estudos se restringiram as vacinas que utilizavam o RNA mensageiro como forma de criar o imunizante.
O estudo também contextualiza que a Coronavac teve uma ampla distribuição, principalmente em países em desenvolvimento, devido a facilidade em administrar o imunizante em comparação a outras vacinas, e em muitos desses países, como é o caso do Brasil, esta vacina é aplicada em mulheres grávidas.
EFETIVIDADE
Ainda que estabelecer um número exato dessas mulheres vacinadas seja impossível, é viável estimar a efetividade da Coronavac em relação aos efeitos colaterais e mais graves da doença, levando em consideração que o Brasil possui uma cobertura vacinal com mais de 50% da população tendo tomado duas doses.
Para realizar o estudo, foram utilizados os testes negativos em todas as gestantes no Brasil que tiveram teste de RT-PCR para a covid. Então foi estimada a efetividade da vacina contra os sintomas da covid comparando o estado vacinal em mulheres com teste positivo, em relação àquelas com teste negativo, e avaliando a eficácia contra covid-19 naquelas com a forma grave da doença, ou seja, com hospitalização, necessidade de ventilação pulmonar, etc, em relação ao status vacinal das mulheres que testaram negativo.
Para isso, foram utilizadas as bases de dados da plataforma de vigilância nacional dos testes de RT-PCR, o e-SUS Notifica, além do sistema que notifica as formas severas de doenças respiratórias, o Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), e o sistema nacional de imunização, o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI). A população do estudo se baseou em gestantes brasileiras, com idade entre 18 e 49 anos, que realizaram os testes PCR, entre março e outubro de 2021, notificados através do e-SUS.
Vale ressaltar, que o período analisado foi marcado pela influência de diversas variantes do vírus, tais como a Gama e a Delta. As mulheres selecionadas para o estudo foram divididas nos seguintes grupos: gestantes que testaram negativo para a covid, as que testaram positivo, e as que testaram positivo com efeitos mais graves.
Durante o período estudado, 95.738 casos suspeitos de covid-19 em gestantes foram registrados no e-SUS. Desses casos, 53% realizaram um teste RT-PCR para a Covid-19 e, após as exclusões necessárias, 19.838 casos foram selecionados para análise, ao serem divididas através dos resultados positivos e negativos.
IMUNIZAÇÃO COMPLETA
Sobre os resultados encontrados, a pesquisadora que liderou o estudo, Enny Paixão, reitera a importância de gestantes tomarem a segunda dose da vacina e que o quadro vacinal contra a covid-19 passe a fazer parte dos exames nas consultas de pré-natal. “Os resultados do nosso estudo mostraram que apenas uma dose da Coronavac não era efetiva contra infecções sintomáticas causadas pelo Sars-Cov-2. Entretanto, também foi observado que 17% das grávidas estudadas estavam em atraso da segunda dose da vacina. Esse resultado evidencia a importância da busca ativa e promoção de oportunidades para vacinar essas mulheres durante as consultas regulares de pré-natal”.
Enny complementa que é necessário ter em mente que a gravidez em si já promove uma resistência em gerar alguns anticorpos, em comparação a mulheres que não estão grávidas, o que pode sugerir que as gestantes não possuem uma resposta vacinal tão efetiva quanto o resto da população. “Tendo em vista que a fatalidade da covid em gestantes é maior do que na população em geral, o mesmo nível de proteção vacinal de não-gestantes poderia ter diminuído a gravidade e a fatalidade da doença nas mulheres grávidas”.
Os dados também apontam que a estimativa de eficácia de 41% contra os sintomas da covid-19, através da vacina Coronavac, é bem menor em gestantes, se comparada a efetividade de 78% e 96% relatado por mulheres de Israel, que receberam outras vacinas que utilizam o RNA mensageiro. A proteção da Coronavac em gestantes variou em pesquisas científicas realizadas em diferentes países, entretanto, as diferenças entre os achados desta pesquisa, em comparação a outras, podem ser relacionadas a diversos fatores como o intervalo entre as doses, o risco de infecção na comunidade, a variante predominante no local e época, entre outros.
Referência: Rocha, A.S., de Cássia Ribeiro-Silva, R., Fiaccone, R.L. et al. Differences in risk factors for incident and recurrent preterm birth: a population-based linkage of 3.5 million births from the CIDACS birth cohort. BMC Med 20, 111 (2022). https://doi.org/10.1186/s12916-022-02313-4
Fonte: Cidacs/Fiocruz Bahia
Foto: Agência Brasil – Fábio Rodrigues