Os sonhos de um mundo integrado que faça uso inteligente dos dados e das ferramentas tecnológicas disponíveis estão presentes nas diferentes esferas da vida. Embora soe futurista, essa realidade já se desenha em ritmos variados ao redor do globo. Este foi o tema do primeiro webinário do Projeto Desafios da Bahia, promovido pela Academia de Ciências da Bahia (ACB), iniciado em 7 de março. O
evento completo foi transmitido no canal da ACB no YouTube e está disponível.
A transição digital está moldando profundamente a sociedade contemporânea. Segundo os especialistas, o Brasil tem grande potencial nesse processo, mas enfrenta algumas dificuldades para consolidá-lo completamente. O professor Raimundo Macêdo, do Departamento de Computação Interdisciplinar da Universidade Federal da Bahia (UFBA), iniciou sua fala apresentando as evoluções na capacidade computacional desde 1950 até os dias atuais. Ele destacou o exemplo do lançamento do iPhone em 2007 e como os sistemas físicos se integram aos digitais e estão se tornando cada vez mais importantes.
Macêd, que coordena o Laboratório de Sistemas Distribuídos (LaSid), lembra que essa integração permite desde o monitoramento de pacientes a um melhor gestão dos sistemas de transporte. Na indústria, essa integração permite gerenciar processos de forma mais eficiente, até mesmo com manutenção preditiva, identificando os melhores cenários para melhorar o rendimento. Esses exemplos demonstram como a transição digital está impactando diversos setores da sociedade. Mas para uma transformção digital, termo que prefere utilizar, há requisitos. A gente tem requisitos de funcionalidade desses sistemas, como a interoperabilidade, a privacidade dos dados e segurança dessas informações”, frisou.
A segunda fala veio da médica Zilma Reis, do Centro de Informática em Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),que trouxe à tona dados sobre o campo da saúde digital no Brasil: 85% das unidades públicas e 91% das unidades privadas de saúde utilizam prontuário digital. A teleconsulta é utilizada por 33% dos médicos e 26% dos enfermeiros no país. A médica apresentou a palestra “A Transição Digital na Saúde: Reflexões sobre o Cenário Brasileiro”. A apresentação inicia descrevendo o que é saúde digital é “um campo de conhecimento e práticas relativas ao desenvolvimento e uso de tecnologias digitais para subsidiar a saúde”, usando a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A pesquisadora também pontuou a necessidade de garantir que a transição digital na saúde não aprofunde as desigualdades, destacando a importância de uma abordagem centrada no usuário e nas necessidades da população para garantir que a saúde digital beneficie a todos de maneira equitativa.” Então, de fato, é algo que já ultrapassa a ciência, ultrapassa a saúde, já está no dia a dia”. No campo da saúde, Zilma lembra que a maior disponibilidade de dados requer um sistema mais seguro para gerir, uma vez que dados de saúde podem ser usados de diferentes formas.
O professor da Faculdade de Comunicação da UFBA, Wilson Gomes, acadêmico da Academia de Ciências da Bahia (ACB), especialista em Política, Governo e Democracia da UFBA, ressaltou que enquanto a politica, no que diz respeito as reações ejogos sociais se paropriou rapidamente desse processo de transição digital, os governos ainda estão atrasados. E este atraso se da mais fortmente com o avanço do ultraconservadorismo que ganhou força no Brasil e no mundo, a exemplo do bolsonarismo e do trumpismo. Ambos movimentos que em suas gestões pouco fizeram ou barraram processos de prestaçaõ de conta pública. Para o professor, assim como os agentes politicos se apropriam das ferramentas que ampliam o relacionamento entre a o público-geral e seus representantes, os Governos devem retomar um processo de transição que se estagnou em 2010 no Brasil.
Essa retomada se dá pela necessidade de uma gestão baseada em dados para uma administração pública mais eficiente. Diante desses desafios, é essencial que governos, sociedade civil e instituições acadêmicas trabalhem juntos para garantir que a transição digital promova uma sociedade mais transparente, inclusiva e justa para todos os cidadãos. “É um processo de conversão digital da vida”, pontua o pesquisador, também colunista da Folha de S.Paulo.
Mediação
O epidemiologista Mauricio Barreto, também acadêmico da ACB e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), desempenhou um papel crucial como mediador no webinário. Barreto lidera um dos laboratórios de uso de dados mais reconhecidos no mundo, com foco na avaliação de políticas públicas e seus impactos para as desigualdades sociais.
O webinário Transição Digital integra o projeto Desafios da Bahia que vai trazer diferentes problemáticas do nosso estado, com considerações vindas de pontos e distintos na produção de conhecimento.