Cidacs estará no epicentro das pesquisas em Clima, Ambiente e Saúde
A humanidade passa por profundas mudanças climáticas que afetam a saúde e põem em risco a vida. Frequente enchentes, secas, queimadas, tornados e furacões, além dos dos efeitos sobre a economia tem imensos impactos na saúde. Porém estudar em detalhes os efeitos na saúde tem sido um desafio em todo o mundo. A pedido de um órgão de fomento de pesquisa internacional que reconheceu no Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) grande potencial para estudos e pesquisas nesta linha, essa será uma das missões do Cidacs nos próximos anos. Em parceria com outras instituições de pesquisa, nacionais e estrangeiras, essa iniciativa colocará a pesquisa brasileira no epicentro dos estudos sobre a relação entre clima e saúde.
Em 2025, o Brasil sediará a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), nesse sentido, é fundamental que o país possua informações e instrumentos avaliativos para levar a pauta ao evento. Isso poderá se tornar uma realidade a partir do projeto “Plataforma Climática e Ambiental do CIDACS (CIDACS-Clima): Um recurso de dados para estudar clima e saúde”, financiado pela Wellcome Trust do Reino Unido, em que serão investigados os efeitos do clima e do ambiente na saúde da população brasileira, considerando o contexto social do nosso país.
Para cumprir esta tarefa, o projeto irá realizar algo que o Cidacs/Fiocruz pratica, fará a vinculação de dados, só que dessa vez, além das informações como renda, raça/cor, escolaridade, condições de habitação, entre outros dados disponíveis na Coorte de 100 Milhões de Brasileiros, entram em cena dados do clima, como a quantidade de chuva (índice pluviométricos), eventos climáticos extremos, qualidade do ar entre muitos outros, obtidos de estações coletadoras existentes ou de satélites de diversas agências espaciais.
E por que um centro que sempre se pautou por apresentar os impactos de desigualdades sociais na saúde agora também se dedica à pauta ambiental? “Uma das grandes questões dos efeitos climáticos é a questão das inequidades, uma vez que os efeitos das mudanças climáticas atingem de forma desigual os diferentes grupos e estratos sociais”, pontua o coordenador do Cidacs, Mauricio Barreto, pesquisador sênior da Fiocruz Bahia
“A Wellcome Trust tem dado muita ênfase aos estudos de clima e saúde e eles comissionaram um grupo para ver onde fazer investimentos para essas pesquisas. Uma vez que os estudos de clima e saúde possuem um atraso metodológico difícil de enfrentar, eles colocaram que a Coorte de 100 Milhões de Brasileiros são uma oportunidade única de fazer estudos climáticos e foi aí que a Wellcome nos chamou”, explicou Barreto. E vai além “Esse projeto nos dá a oportunidade de construir uma megaestrutura para estudos de clima, considerando ainda o fato de que o Brasil tem um grande território e uma vasta diversidade climática e de ecossistemas”.
Neste projeto, serão especialmente analisadas como políticas de saúde, políticas ambientais ou outras políticas sociais podem mitigar os efeitos das adversidades climáticas. Para isso, será construída uma plataforma de dados climáticos que integrará diferentes tipos de dados existentes, como dados de satélite, terrestres, de eventos climáticos extremos, entre outros. Esse projeto envolverá, de um lado, a estruturação dessa plataforma, e de outro, as pesquisas científicas que serão possíveis a partir dos dados disponíveis.
PARCERIAS
A iniciativa é coordenada pelo Cidacs/Fiocruz Bahia e tem parcerias, no Brasil, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a Universidade Federal da Bahia (Ufba), Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica da Fiocruz (Icict) e o Instituto René Rachou (Fiocruz Minas), o Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz e, no Exterior, a The London School of Economics and Political Science (LSE), a London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), a University Lancaster, o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) e a Agência Espacial Europeia (ESA),
“A gama de parceria já construída oferece uma vantagem de reunir múltiplos saberes para enfrentar o desafio que se apresenta”, pontua o professor e pesquisador associado Gervásio Ferreira, Professor de Economia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e um dos líderes do projeto. “Esse projeto nos permite simular efeitos das políticas e isso é muito importante para os tomadores de decisão.”, exemplifica. Ferreira já atua no Cidacs em projetos que tratam de sustentabilidade, avaliação de políticas públicas, saúde urbana, entre muitos outros.
Uma das iniciativas que Ferreira esteve à frente foi em fevereiro de 2020, quando o Cidacs realizou um evento sobre desfechos de saúde diretamente relacionados ao ar, a água e ao solo que as populações têm contato. O Workshop Environmental, Economic And Social Determinants Of Health In A Climate Change Context reuniu pesquisadores da área de vários países e já ali trilhava-se caminhos que permitiram se tornar possível esta nova empreitada (o evento está disponível no nosso canal do youTube).
Fonte: Cidacs (Escrito por Karina Costa e Mariana Sebastião)