Resíduos da produção de algodão podem ser utilizados na dieta de bovinos
Em produções de larga escala, é comum que, ao longo do processo, uma parte da matéria-prima acabe gerando resíduos. Quando não são bem utilizados, esses resíduos ocasionam impactos na natureza. Dessa forma, o grande desafio é encontrar um destino útil para esse material que seria perdido. Pensando nessa demanda, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e outras universidades nacionais e internacionais se debruçaram em maneiras de utilizar os resíduos gerados pelo processo de manufatura do algodão, cultura que coloca a Bahia no segundo lugar do ranking de produtores de algodão do Brasil.
O estudo teve início, há dez anos, no Núcleo de Estudo e Pesquisa em Produção Animal da Uneb, com a proposta de buscar alternativas para a utilização desse material residual na dieta de bovinos. Foi, então, que o Laboratório de Nutrição Animal da Uesb passou a investigar formas de tratamento desses resíduos para incorporação na dieta dos ruminantes.
Sem tratamento, os resíduos de algodoeira apresentam elevados teores de compostos químicos que dificultam o processo de fermentação e digestão pelos ruminantes. Por esse motivo, requerem tratamentos físicos, químicos ou biológicos para que se possibilite a utilização racional da grande disponibilidade destes subprodutos.
TRANSFORMANDO “LIXO” EM ALIMENTO – A utilização dos resíduos de algodoeira se mostra como uma alternativa favorável ao meio ambiente. “É muito mais sustentável utilizar esses resíduos para produzir forragem para a alimentação animal, mas, pela baixa qualidade, é necessário que haja um tratamento desse resíduo”, explica o professor Danilo Gusmão, pesquisador da Uneb.
Ainda segundo o docente, os resultados dessa implantação dos resíduos tratados são animadores no ganho de peso e aumento da produtividade dos animais. “É transformar o lixo em carne e leite. Transformar algo de baixíssima qualidade em produtos nobres para a alimentação humana”, destaca.
O professor Mauro Figueiredo, da Uesb, aponta que “o Brasil se posiciona como maior exportador de carne bovina no mundo. A possibilidade de aumento da produtividade de carne utilizando o confinamento para a fase de engorda contribui para aumentar a eficiência do processo de produção, aumentando a disponibilidade de carne no país”.
Figueiredo explica, ainda, que os horizontes abertos com pesquisa impactam não somente a vida do produtor no campo, mas a sociedade como um todo. “Naturalmente, é uma contribuição para a maior oferta de proteína de origem animal para a sociedade e, também para o país, fazendo com que o Brasil possa incrementar os volumes exportados, produzindo carne com qualidade”, analisa.
ETAPAS DA PESQUISA – Quando os resíduos sem tratamento foram implantados, diretamente, como parte da alimentação animal, os pesquisadores perceberam que o baixo valor nutricional dos resíduos impactava sobre o ganho de peso dos bovinos e buscaram maneiras de aumentar a quantidade de nutrientes nos resíduos. A pesquisa se dividiu em três etapas: testes em laboratório, testes biológicos e, por fim, testes de desempenho com animais.
Na fase laboratorial, os resíduos eram submetidos a um tratamento químico, feito com a utilização de ureia e hidróxido de sódio. Passada essa etapa, o tratamento biológico foi realizado no Laboratório de Nutrição Animal da Uesb, por meio do acréscimo de enzimas fibrolíticas. Segundo Figueiredo, o uso das enzimas proporciona um melhor aproveitamento dos resíduos na alimentação dos ruminantes, aumentando a conversão alimentar e o ganho de peso quando comparados com o uso sem tratamento.
Além disso, a tecnologia desenvolvida pela pesquisa e utilizada no tratamento dos resíduos de algodoeira também pode ser implantada nos restos de culturas, que, posteriormente, podem ser utilizados na alimentação de ovinos e caprinos.
COLABORAÇÃO INSTITUCIONAL – A parceria entre a Uesb e a Uneb se dá pelo intercâmbio científico, através da realização de estágios para estudantes da Uneb no Laboratório de Nutrição Animal da Uesb, realizando, assim, experimentos com animais. Além disso, existe a colaboração em teses de doutorado, por meio do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia e publicação de artigos científicos.
Conheça outras pesquisas no site do “Ciência na Uesb”
Fonte: UESB
Foto: UESB