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Destruição da floresta amazônica aumenta risco de epidemias

A Academia Brasileira de Ciências disponibiliza trechos de matéria publicada pela Folha de São Paulo em 18 de outubro, com relatos de cientistas sobre o risco de aumento de epidemias com a destruição da floresta amazônica. O jornal ouviu diversos cientistas, entre os quais estão os Acadêmicos Pedro Vasconcelos, Carlos Nobre, Philip Fearnside e Adalberto Luis Val.

Raiva, malária, dengue, chikungunya, zika, oropouche, mayaro, encefalite de Saint Louis, leptospirose, hanseníase, Chagas, filariose. Essas são algumas das doenças que tiveram origem em animais e que já desencadearam casos, surtos ou epidemias relevantes na Amazônia e fora dela.

Se a biodiversidade da floresta amazônica é uma potencial fonte de doenças, por outro lado, ela impede que elas saiam do controle, mostram as conclusões de um estudo recente.

O trabalho foi conduzido por Joel Henrique Ellwanger, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), que revisou centenas de pesquisas sobre a relação entre zoonoses (doenças transmitidas de animais ao homem) e desequilíbrios ambientais.

“Estamos lançando um alerta com esse artigo”, diz o cientista, que vê “riscos elevados” de surgimento e reemergência de doenças infecciosas a partir da Amazônia.

A maioria das doenças infecciosas (60%) originou-se de patógenos de animais que saltaram para os humanos (fenômeno conhecido como “spillover”, em inglês), como o Sars-CoV-2.

O IEC (Instituto Evandro Chagas), de Belém, isolou 180 vírus diferentes da Amazônia, dos quais 116 eram novos para ciência, 37 associados a doenças em humanos e nove com potencial de surtos e epidemias importante no país, como dengue, zika, chikungunya, febre amarela, encefalite Saint Louis, febre do Nilo Ocidental, mayaro, oropouche e rocio.

A relação entre o surgimento dessas doenças e alterações ambientais está bem estabelecida na ciência, afirma Pedro Vasconcelos, virologista aposentado do IEC.

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Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram um aumento expressivo do desmatamento na Amazônia nos últimos quatro anos. Cerca de 95% dos desmatamentos na região ocorrem a uma distância de 5,5 km em cada lado da estrada, segundo o pesquisador Carlos Nobre, da USP.

Outro estudo da USP mostrou que a febre amarela se dispersa mais rapidamente nas estradas adjacentes à floresta e que os blocos de floresta reduzem essa dispersão. Pesquisadores gaúchos apontaram ainda que estradas funcionam como túneis de vento transportando mosquitos da doença.

A construção das hidrelétricas de Samuel (Rondônia) e Tucuruí (Pará), na década de 1980, produziu enxames de mosquitos, segundo pesquisas de Philip Fearnside, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).

Em Tucuruí, os mosquitos Mansonia brotavam das plantas aquáticas na superfície dos reservatórios. O inseto transmite o verme da filariose (ou elefantíase) ainda presente na Amazônia. O fenômeno chegou a provocar migração significativa de indígenas parakanãs e outros moradores, escreveu Fearnside.

“Eu estava em Tucuruí à época. Era uma loucura, os pesquisadores do Inpa chegavam a contar 600 picadas de mosquitos, por hora, em uma pessoa”, relembra Fearnside, que atualmente estuda os impactos ambientais da BR-319 na Amazônia.

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Nas feiras tradicionais, como a Feira da Panair, em Manaus, animais e frutas silvestres são expostos a milhares de pessoas cotidianamente. É comum o hábito de manipular e cheirar os peixes para avaliar a qualidade. O contato é intenso, semelhante ao que ocorre em outras partes do mundo, diz o biólogo do Inpa Adalberto Luis Val.

Em 2021, a ingestão de peixes contaminados provocou a “doença da urina preta” (síndrome de Haff) em regiões amazônicas. Uma das hipóteses é que ela seja causada por vírus, diz Val.

O consumo de tatus levou a surtos e casos de hanseníase no Pará e micose sistêmica (“doença do tatu”) no Ceará e no Piauí.

A vigilância sanitária é deficiente na Amazônia, avalia Adalberto Luis Val. São necessários pesquisadores qualificados e tecnologia de ponta para identificar patógenos. O Brasil destina à Amazônia cerca de 3% do total investido em ciência e tecnologia, para uma área de 60% do território do país, lamenta o pesquisador.

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Leia a matéria completa na Folha.(Folha de São Paulo, 18/10/2022)

Fonte: Academia Brasileira de Ciências

Foto: Imagem de Turiano L P Neto por Pixabay 

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