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Faculdade de Medicina pede restauração do título de heroína da pátria a Nise da Silveira

Nise da Silveira formou-se na Faculdade de Medicina da Ufba, em 1926. Foi a única mulher numa turma de 78 estudantes.

Nascida no Estado de Alagoas, Nise da Silveira formou-se na Faculdade de Medicina da UFBA em 1926. Conforme aponta o documento, iniciou a sua graduação aos 16 anos, em 1921, cursou e se formou “com muito brilho”, tendo sido a única mulher numa turma de 78 estudantes. Nise apresentou como trabalho de conclusão do curso, na época denominado tese inaugural, o “Ensaio sobre a criminalidade da mulher no Brasil”, que está entre as teses históricas da Faculdade de Medicina da UFBA, disponível no site da Bibliotheca Gonçalo Moniz – Memória da Saúde Brasileira.

“A gente tem muito orgulho de ter tido Nise como aluna. Ela causou uma revolução no tratamento dos transtornos mentais”, afirma o diretor da FMB, Luis Fernando Adan, que define a médica como uma pessoa de vanguarda em seu tempo, que inovou com métodos que permitiram uma outra forma de abordagem junto aos pacientes psiquiátricos, tornando-se referência na área da terapia ocupacional. Ele destaca a forte tradição que a instituição tem na área da saúde mental, tendo formado nomes como Juliano Moreira e Álvaro Rubim de Pinho.

O documento foi uma iniciativa do professor da Faculdade de Medicina Ronaldo Jacobina, um dos protagonistas na luta antimanicomial e pela aprovação da Reforma Psiquiátrica (Lei nº 10.216/2001), com vasta experiência na área. O professor lembra que “Nise utilizou cães e gatos como procedimento terapêutico para construção de afetos e reciprocidade”. Ele também destaca o seu legado com o Museu das Imagens do Inconsciente, criado por ela, em 1952, como espaço para expor os trabalhos artístico de seus pacientes.

O conjunto da obra de Nise da Silveira continua inspirando milhares de profissionais da saúde, conforme aponta o texto, que defende que “é de interesse público homenagearmos esta mulher, que foi pioneira em perceber, indignar-se e ter lutado para mudar o rumo dos tratamentos psiquiátricos desumanos que eram dados na sua época aos pacientes. Diante disso, reforça o pedido ao Congresso Nacional para que derrube o veto presidencial e restaure o título de “Heroína da Pátria” à Dra. Nise da Silveira.

Confira a moção na íntegra:

AO SENADO FEDERAL E À CÂMARA DE DEPUTADOS

EM SESSÃO CONJUNTA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

A Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia, escola mater da medicina brasileira, vem solicitar a estas insignes instituições parlamentares que se posicionem: Pela derrubada do veto presidencial; E a favor da inclusão no livro de Heróis e Heroínas da Pátria do nome da Dra. Nise Magalhães da Silveira, que temos a honra de ter sido a escola médica na qual ela, com muito brilho, cursou e se formou (entrada com 16 anos, em 1921 – formada com 21 anos, em 1926), num destacado protagonismo feminino (única mulher numa turma de 78 estudantes), apresentando como sua tese para a conclusão do curso o “Ensaio sobre a criminalidade da mulher no Brasil”.

Professores, Estudantes e Funcionários desta Unidade Universitária da área da Saúde, comprometidos com a Democracia, a Liberdade e a Civilização, mas também com a Ciência e a Cultura, inconformados(as) com o injustificado veto presidencial à concessão do título de “Heroína da Pátria” à Dr.ª Nise da Silveira, apelamos enfaticamente ao Senado e a Câmara de Deputados da nossa República no sentido de que derrube o veto, pois ele afronta a memória e a dignidade da brilhante médica psiquiatra e cientista humanitária, profissional que contribuiu para a humanização do cuidado às Pessoas com transtornos mentais.

É de interesse público homenagearmos esta mulher, que foi pioneira em perceber, indignar-se e ter lutado para mudar o rumo dos tratamentos psiquiátricos desumanos que eram dados na sua época aos “doentes mentais” no país.

Sua escuta atenta, sua compreensão e cuidado da alma humana, possibilitaram apoiar o desenvolvimento das potencialidades de saúde de cada paciente como Pessoa, com P maiúsculo. Através de inovadoras abordagens terapêuticas, integrando diversas expressões artísticas no tratamento, o uso de animais de estimação, entre outras práticas criativas, ela lançou bases que revolucionaram o cuidado aos doentes mentais, tendo levado saúde aos “manicômios”, na época, um lugar visto apenas como local de contenção da loucura, sem tratamento adequado para a cura e reabilitação.

O conjunto de sua obra continua inspirando milhares de profissionais da saúde e “suas descobertas teóricas e contribuições clínicas” obtiveram, na época, reconhecimento internacional, ilustrado pelo elogio público feito pelo genial psicólogo analítico alemão Carl Gustav Jung.

Que o Senado e a Câmara Federal da República, com autonomia, que o poder republicano garante no Estado Democrático de Direito, faça justiça derrubando o absurdo veto presidencial e restaure o título de “Heroína da Pátria” à Dra. Nise da Silveira.

Salvador, 7 de junho de 2022

Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia – FMB-UFBA

Fonte: UFBA/ Edgardigital

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