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Produto à base de alecrim-pimenta pode ser arma contra superfungo

Planta abundante no Nordeste é base do estudo realizado por pesquisadores da USP.

A notícia da forte atividade antimicrobiana da substância acontece num momento em que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acaba de informar a ocorrência do terceiro surto da Candida auris no Brasil. A espécie é considerada um superfungo por ser multirresistente aos antifúngicos comerciais, facilmente transmissível e responsável por infecções hospitalares. Provoca febre alta, tontura, fadiga, aumento da frequência cardíaca, vômitos e sepse, podendo ser fatal. Foi identificada em quase 50 países pelos cinco continentes e, no Brasil, que conta com 18 casos confirmados, foi detectada pela primeira vez em dezembro de 2020.

Contra esse superfungo, as equipes da FCFRP, coordenadas pelos professores Wanderley Pereira Oliveira e Marcia Regina von Zeska Kress, apostam no óleo essencial da Lippia sidoides, nome científico do alecrim-pimenta. A substância é objeto das pesquisas do professor Oliveira desde 2007, quando começaram os testes sobre as potencialidades bactericidas e fungicidas do óleo essencial da Lippia sidoides.

À frente do Laboratório de P&D em Processos Farmacêuticos (LAPROFAR) da FCFRP, Oliveira e seu time já possuem duas patentes de encapsulados deste óleo essencial, que servem como antimicrobianos para indústrias farmacêutica, cosmética e de alimentos. Agora, para enfrentar a Candida auris, o professor Oliveira e a pesquisadora e aluna de doutorado Iara Baldim usaram nanotecnologia e desenvolveram um novo produto: uma nanocamada (escala molecular) feita “à base de sistemas lipídicos” que envolve o óleo essencial.

A tecnologia, garantem, maximiza o potencial de uso da substância ativa do alecrim-pimenta, diminuindo a toxicidade e aumentando tanto a estabilidade quanto a atividade antimicrobiana. Afirmam ainda que os ensaios realizados encontraram o nível ideal de concentração da substância ativa que é eficaz contra o fungo sem oferecer riscos tóxicos ao organismo humano. A avaliação da atividade antimicrobiana e da toxicidade do novo produto ficou a cargo do laboratório da professora Márcia e dos pesquisadores Mario Paziani e Patrícia Barião.

ENCAPSULAMENTO TORNA PRODUTO VIÁVEL

O alecrim-pimenta é uma planta utilizada na medicina popular como antimicrobiano e antifúngico. Apesar das propriedades benéficas, o óleo essencial do alecrim-pimenta pode causar irritações na pele e reações alérgicas que são evitadas com o encapsulamento. Além dessa, outra vantagem do sistema criado pelo Laprofar é o aumento da eficiência do produto já que o óleo essencial é volátil e perde suas características originais quando exposto aos fatores ambientais, como calor, oxigênio e radiação solar.

EFICAZ CONTRA DIVERSOS MICRORGANISMOS

Para entender o funcionamento do óleo essencial, diversos testes foram realizados, mapeando seu mecanismo geral de ação e, em específico, contra o superfungo. Apesar de os estudos não terem elucidado plenamente esses mecanismos, Oliveira diz que os resultados até o momento garantem que o óleo essencial do alecrim-pimenta é multicomponente e pode atuar de diferentes maneiras ao mesmo tempo, inibindo o crescimento do fungo e de outras bactérias por diversos mecanismos.

ALTERNATIVAS PARA DOENÇAS RESISTENTES A MEDICAMENTOS

Os próximos passos devem transformar o óleo essencial do alecrim-pimenta em terapia, já que “os sistemas produzidos têm se mostrado eficazes para o controle de patógenos resistentes a medicamentos”, diz Oliveira.

Estudos sobre o comportamento do produto no sistema gastrointestinal (para administração via oral) e permeação transdérmica (via tópica) são alguns alvos iniciais para o uso do produto como medicação. Também existe a possibilidade de associar o produto a medicamentos tradicionais, contribuindo para minimizar a resistência do fungo.

O pesquisador informa ainda que diversas pesquisas estão em andamento para “avaliar possíveis comportamentos sinérgicos entre as nanopartículas e medicamentos tradicionais na eliminação da resistência de microrganismos resistentes”, desenvolvendo assim novas formas de tratamento para infecções nosocomiais, como é o caso da Candida auris.

Mais informações: e-mail wpoliv@fcfrp.usp.br

Fonte: Vinícius Botelho e Rita Stella – Jornal da USP

Foto: Montagem feita por Guilherme Castro/Jornal da USP com imagens cedidas por pesquisador, Wikimedia Commons e Unsplash.

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